Por Vinicius Libardoni
Uma mistura
de espanto e admiração são as experiências sensíveis que experimentei no
primeiro contato com a maior metrópole brasileira. Um jovem de 16 anos, oriundo
de uma pequena cidade no interior remoto do país, entra em um ônibus urbano na
Av. Marginal Tietê rumo ao centro. Percorri a Avenida Rio Branco, desci do
ônibus no Largo Paiçandú acompanhado de um guia inexperiente, um amigo alemão
da Westphalia que havia visitado a
cidade uma única vez. Os primeiros passos inseguros e os olhos atentos a tudo me
guiavam pela cidade. Passando pelo Teatro Municipal, pelo Viaduto do Chá e o Vale
do Anhangabaú, a Praça São Bento, o Pátio do Colégio, da Praça da Sé até a
Liberdade. Tudo parecia novo e estranho, desde a miséria daqueles homens do
Largo Paiçandú as prostitutas aguardando seus clientes na Avenida da Liberdade.
Horas eternas passando do espanto à admiração. A percepção de uma paisagem sublime,
que causa espanto mais por sua originalidade que por sua realidade. Um
estranhamento completo, a mais pura sensação de liberdade. Esta foi a minha
primeira experiência naquela cidade que passei a admirar profundamente.
O sublime
considera aspectos extraordinários e grandiosos do espaço, considera um
ambiente hostil e misterioso, desenvolve no indivíduo uma sensação de
estranhamento, espanto e admiração. É o desconhecido, o que não nos é familiar.
Normalmente não aceitamos de imediato àquilo que é distinto, é difícil
compreender aquilo que é estranho, diferente. Gostamos daquilo que é de fácil
aprendizagem, o que nos dá segurança. É aquilo que se relaciona, mesmo que
inconscientemente, com as cosias do passado e permite construir relações dialéticas
com nossa experiência prévia. É um fenômeno que Tony Díaz define como ressonância temporal, para ele, o grau
de satisfação está determinado por estas idas e vindas à memória, pela
possibilidade de que se desenvolvam estas viagens para o passado e para o
presente. “Quando gostamos das cosias, é porque se atravessa felizmente pela
experiência da ressonância temporal;
quando não gostamos, é porque a ressonância
temporal não existe ou está mal articulada” (Díaz, 2008) .
Seguramente,
a percepção daquela experiência, ligada diretamente com a sensação de
estranhamento, causou curiosidade. Um anseio por compreender aquela realidade.
Agora, anos
mais tarde, paro para refletir o porque deste desejo por apreender as formas, o
espaço e a complexidade da paisagem urbana produzida anonimamente pelo coletivo
de interesses que construíram a cidade de São Paulo. Este texto é uma tentativa
de explicar um anseio por compreender um espaço que me causa imenso entusiasmo
com a finalidade de construir uma linguagem própria para a interpretação da
cidade convertendo-a em conhecimento.
Díaz, T. (2008). La
ressonancia temporal en la arquitectura. Summa + 97, 34-43.