domingo, 15 de abril de 2012

Yasujiro Ozu, longboard y una nostalgia que me mata

Por Samuel R. Rocha e Vinicius Libardoni



Yasujiro Ozu, japonês nascido aos 12 de dezembro de 1903, foi um dos maiores cineastas e roteiristas que o século XX pôde produzir. Infelizmente, toda e qualquer forma de manifestação cultural vinda do oriente (e não só isso), tem ainda hoje tão limitada repercussão em nosso mundinho americanizado. Não é diferente no campo do cinema, longe disso. Nossa cultura cinéfila é monstruosamente hollywoodiana.

E o que tudo isso tem a ver com um título tão incrédulo que congrega Ozu, longboard e a tal nostalgia que me assalta cotidianamente?

Aprendi, com um velho amigo, a ver relatividade em tudo. Embora isso também possa ser relativo, acredito na fantasia que é permitir-se narrar estranhas similaridades que nos ocorrem. Aliás, como descreveu Ângelo Bucci em seu livro “Da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes” referindo-se à Poética do espaço de Bachelard:

“As lembranças que temos das experiências vividas têm um limite: o esboço da fala. Antes dela a memória, como a língua, apenas balbucia. Isso quer dizer que a memória, para ser constituída, precisa ser descrita. Então, é na narrativa dos fatos que a nossa experiência ganha significado e permanência. Daí o valor das conversas, das histórias contadas, para as atividades que recorrem à memória, às associações e à imaginação, ou daí o valor da tradição oral para as atividades propriamente humanas.” 

Falando de associacionismos que nos ocorrem, individualmente perceptíveis a partir das experiências prévias vividas. Discorrendo da necessidade da descrição dos fatos como construção da memória no espaço tão bem esclarecida por Foucault em seu livro As palavras e as coisas. E, de fato, tocando o tema do espaço e sua representação, nada melhor que incluir cinema. A arte que de melhor forma descreve a arquitetura e a cidade, ou seja, o espaço. 


Foi assistindo um vídeo chamado MADRID LONGBOARD que Yasujiro Ozu pareceu renascer, pelo menos pra mim. Descrito com o "maisjaponês dos realizadores de cinema", teve uma tardia e dura passagem do cinema mudo para o sonoro, e mais tarde, em aceitar as cores como intensificador da expressividade na grande tela. Excêntrico e perfeccionista, tudo é compreensível quando se assiste a algum filme do diretor nipônico. Já em seu cinema sonoro, como em “Filho único” (1936), percebe-se o controle dos intervalos sonoros como ferramenta de comunicação, com Ozu o cinema sonoro ainda fala, em silêncio.

Além disso, destacado por todos os críticos da obra de Yasujiro Ozu, o seu estilo de plano é completamente distinto. Filmado pelo operador de câmera de cócoras, tenuamente instigante para nós, ocidentais, a mim, este fato parece aproximar a obra de Ozu com aquelas câmeras que percorrem a cidade na carona de um longboarder. De nenhuma maneira pretendo diminuir (por que verdadeiramente desconheço todos os fatores que constituem a forma singular de rodagem de Ozu), ou desvalorizar a sua obra, como tampouco posso fazer comparações.

Ambas situações são incomparáveis e este não é o foco desta exposição. O que se trata é uma espécie de Resonacia temporal[1] entre uma forma de descrever a cidade e a obra de um grande cineasta. O vídeo, anteriormente já citado, pretende, a meu ver, descrever de forma poética a maneira de utilizar o esporte como apropriação do espaço da cidade. E o que enxengo, é uma maneira única de descrever a cidade. Ao trazer a câmera ao nível de Ozu, agora em movimento e em um plano sequencia larguíssimo, muito distinto da forma de plano e contra plano fixo-frontal de Ozu, se cria uma maneira ímpar de representar o espaço-tempo da cidade. Uma maneira única de compreender um espaço que tive a felicidade de percorrer diariamente. 



É ai que entra a nostalgia neste bonde. Somado a todo este discurso desconexo, é esta cidade belamente representada neste vídeo que tanto me emociona. A paisagem, as cores, texturas, o deslizar por suas calçadas contínuas e infinitas, pelo relevo cume na Gran Vía que se escorre para a Plaza del Sol ou sentido a Puerta de Alcalá, a praça de Callao, e tantos edifícios belos e presentes no espaço da cidade. Madrid tem um tal de deixar-se levar, um derivar infinito que promove a criatividade e inventividade dos seus habitantes. Isso é evidente seja qual for a maneira de descrever seu espaço, seja em palavras, fotografias, música ou sob um passeio de longboard relembrando Yasujiro Ozu nos filmes em cartas da Gran Vía.




[1] La resonancia temporal en la arquitectura, (pg.34-43). Tony Díaz, Summa+ 97, Noviembre 2008.

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