domingo, 15 de janeiro de 2012

peitos explosivos, protótipos insufladores de ego

Jane Mansfiled exibe seus atributos ao lado de Sophia Loren; Publicidade "A pasta russa".

A Anvisa abre processos contra as empresas importadoras de próteses de silicone fabricados na França pela empresa Poly Implant Prothèse - PIP, e o governo brasileiro anuncia que todas as mulheres que turbinaram seus peitos com esta arma explosiva podem substitui-los por outros menos perigosos - mais não menos provocativos. 
Desde que começaram a ser detectados casos de ruptura dos implantes, todos os países, inclusive o Brasil começou a aplicar medidas para tentar controlar estas “bombas-relógios” disfarçadas de saco de silicone que estão cuidadosamente aplicadas em milhares de peitos avantajados que desfilam por nossas praias neste verão. Seria um caos se todas aquelas belas silhuetas andassem explodindo, ainda mais nos momentos impróprios para isso – justo quando são realmente colocadas a prova. 

Segundo matéria publicada no jornal El País, “...as ultimas informações sobre as próteses são que os implantes conteriam um aditivo de carburantes, que também empregam-se na construção de matérias de navios e em componentes eletrônicos”. O que significa que, através da aquisição destes novos peitos, houve uma transmutação do peito avantajado do século XX para uma espécie de parafernália eletrônica do século XXI além de objeto de consumo. 

Em números informados pelo periódico espanhol, no mundo poderiam existir mais de 500.000 mulheres portadoras dos seios PIP. Meio milhão de aterradoras tetas explosivas. Em nosso país, a partir da ultima década, este acessório passou a ser visto como mais uma peça no vestuário felino. Mamãe, mamãe, eu quero por um daquele ali, diz uma mocinha de quatorze anos assistindo a última novela das nove. Enquanto a economia brasileira foi se fortalecendo e o poder aquisitivo da população foi aumentando estratosfericamente, mais próteses foram sendo instaladas inflacionando o padrão, até então tão categórico, da mulher brasileira. 

E agora o risco aumenta, pois com a economia aquecida, embora isso não se deva a quantidade de seios "ciborgues" presentes no mercado de trabalho, muitas portadoras destes protótipos insufladores de ego estão viajando por ai. Poderia ter um aspecto positivo, que elas possam estourar seus peitos bem longe dos nossos olhos, porém, o assunto é realmente delicado, diz-se por ai que uma dezena de mulheres estão estourando durante voos comerciais. Macaco Simão precisa, com urgência, saber disso. 

Mais no país da piada pronta, tudo é maravilha, lábios, peitos, bundas, tudo e todos tem o direito de dar uma incrementada no visual segundo uma pequena incrementada no orçamento. Entretanto, em breve isso tudo pode estourar, a economia, o crescimento e essa sensação de oba-oba. A inflação sobe e as tetas estouram. Já é algum sinal e não é bem, digamos, positivo. Tomemos cuidado com toda esta onda de peitos tipo air-bag com data de validade e quem sabe possamos um dia passear pela praia e se encantar, e que a beleza natural não seja apenas das nossas paisagens.


sábado, 14 de janeiro de 2012

ho-ba-la-lá de Marc Fischer


Vinte e quatro horas desde que abri o livro. Talvez umas dez horas de leitura. Quanto anos Marc Fischer dedicou a João Gilberto para presentear alguns leitores com um sonho compartilhado? A história da bossa nova é mesmo triste na figura mais representativa do coração da beleza.

Uma história que tinha tudo pra ser uma obra detetivesca, inspirada em Sir Conan Doyle. Mais é uma história real, tão real quanto a esta própria declaração de amor a Bossa Nova, ao Brasil e, principalmente, a João.

Um ser único e, a meu ver, incompreendido. Por esse Brasil afora, quem realmente sabe quem é João? Da geração nascida nos anos oitenta até os dias de hoje são exceções aqueles que por ventura já ouviram “Ho-ba-la-lá”.

Um individuo sozinho em busca do sonho. Reconhecimento, popularidade, isso não importa, seu compromisso é com a música, com as suas próprias convicções. Tachar alguém de tantã é muito fácil, fazemos isso toda hora, tanto quanto queremos “matar alguém” sem nunca ter tido coragem de pisar em uma simples formiga. Nosso umbigo acaba sendo o centro do mundo. E a opinião comum diz o que é certo e errado neste mundo de dualidades abestalhadas.

João está certo. Não é doido, não é depressivo nem depravado. Pode ser sensível demais. Ele está certo, seu compromisso é consigo mesmo, com a música, com a beleza verdadeira. Um gênio. A Cultura brasileira deveria abraçar a causa, um patrimônio da humanidade reconhecido em cada rincão do planeta não pode ser deixado de lado assim, a mercê do tempo. Um músico que é aplaudido por vinte e cinco minutos ininterruptos lá no Japão e que pouco toca nos rádios brasileiras. Entretanto, doa-se milhões para se fazer um “blog”. Ainda fosse Elis Regina.

João não quer que se façam documentários sobre ele, a figura João não é o que importa, se ele pudesse, ensinaria todos a cerrarem os olhos quando se escuta “chega de saudade”.

Medo. É o que sinto quanto penso no momento em que ele se vá. Medo do que a mídia venha a fazer com sua figura enquanto ele, se pudesse, imploraria para que a música, que preenche seu apartamento no Leblon por quase doze horas diariamente, pudesse soar sem nenhuma interferência. Para o mundo todo poder ser tocado, preenchido, completo, satisfeito.

Mais tudo trata-se de um anseio. E anseio é coisa que ninguém pode apanhar. 


quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Construindo novas perspectivas

Por Vinicius Libardoni

Gosto de ser errante. De zanzar pelas ruas em busca de uma perspectiva oculta. Por melhor se conheça um determinado entorno, a paisagem sempre nos surpreende a cada novo trajeto. Em São Paulo, isso ocorre de forma majestosa. Existe sempre mais uma “camada” de cidade além do que se pode observar, e assim, a cada passo um novo limite se apresenta, e vagando vai se construindo as imagens que compões a sua São Paulo. Eu tenho a minha, e se eu pudesse desenhá-la, seria um emaranhado de perspectivas com conexões nada coerentes, mas afinal, isso não é pra ficar no papel e sim, na memória.

Cruzando as colinas do Pacaembu, de cá pra lá, percebe-se o esforço do homem em construir uma paisagem. Como se não bastasse às ondulações naturais deste sítio, há em tudo que o homem faz uma sensação de competitividade. As casas que se apinham na encosta procuram rivalizar com as árvores e pedras que um dia compunham esta paisagem deslumbrante. Onde antes se avistava o horizonte delineado ao fundo do vale, percebe-se apenas mais um muro, mais uma esquina, e assim, outras camadas sucessivamente.

Descendo uma ladeira em curva, bem próxima ao Estádio Municipal, se encontra a residência Rio Branco Paranhos, uma joia da obra de Artigas do ano de 1942. Apenas dois anos antes, o Estádio do Pacaembu era inaugurado, lá estava o presidente da República (Getúlio Vargas) sendo vaiado constantemente, pois, nem mesmo os oito anos que se passaram foram capazes de apagar aquele episódio da Revolução Constitucionalista de 1932.

Residência Rio Branco Paranhos, Arq. Vilanova Artigas, 1942. Foto do autor.
Escalando as colinas do lado de lá fui perder-me entre as ruas nordestinas - Alagoas, Ceará, Bahia, Sergipe e Pará. A residência Luiz da Silva Prado, projetada por Gregori Warchavchik encontra-se oculta e quase passa despercebida lá de cima da Rua Bahia onde antes, pousava soberana emoldurada na paisagem. Daquela foto do Congresso da Habitação de 1931 em frente a casa, resiste o testemunho no estilo dos homens, que mais parece cena de filme americano dos anos 30 que da própria paisagem urbana, ainda incipiente, da cidade de São Paulo.

Descendo a direita ao final da Rua Bahia encontra-se a Rua Itápolis, e no número 961 desta rua está situada a casa Modernista de Warchavchik. Sua inauguração sucedeu no dia 26 de março de 1930 em meio a uma ousada festa com uma grande exposição de arte moderna articulando arquitetura, design e artes na tentativa de promover uma ambiência moderna naquele lugar ainda de caráter tão rural.

A vanguarda da cidade foi convocada e participou integralmente da exposição que marcou época e representou uma tomada da identidade moderna para a burguesia generalizada da sociedade. Cabe aqui publicar um momento de indignação. Que pena que aqueles anos passaram, quando a elite econômica (gente de poder) também era a elite intelectual da sociedade. Não que isso seja algo agradável, porém, atualmente, quanto mais subimos de classe social pior é o resultado.

As torres de apartamentos que se erguem nas colinas do Pacaembu hoje em dia, procuram ainda expressar aquela modernidade tão evidente na obra de Warchavchik. A banalidade do bonde da arquitetura contemporânea passa desgovernada e sem freios. O branco da pintura de suas paredes representa, pelo menos pra mim, uma alma penada perdida na atualidade. Uma tentativa de interpretação daquela arquitetura que marcou a modernidade da burguesia paulista dos anos 30. Mais uma tentativa tão falha e tão falsa. E se o branco relativiza o purismo de Warchavchik, as janelas de tais edifícios mais parecem lápides de um tumulo. Um túmulo onde está enterrada a nossa capacidade de produzir uma boa arquitetura.

"Túmulos", edifícios em Higienópolis. Foto do autor.
E não é só isso que se encontra sepultado atualmente. Foi-se a época onde o ambiente bucólico da intelectualidade convivia nos espaços coletivos urbanos em uma relação de troca e encontros que jamais voltaria a acontecer nas mesmas dimensões. O teatro esvaziou-se, os cinemas de rua foram fechados, os bares da boêmia estão tomados de gente sem opinião e a imensa quantidade de má arquitetura produzida nas nossas cidades é recebida tão acrítica quanto austeramente.

Vagando pelas ruas, acabado me perdendo em ideias e no fim, falando demasiada besteira. Mais se atravessar as colinas do Pacaembu me levou do entusiasmo ao abatimento, chegar às ruas de Higienópolis me trouxeram de volta a vida. Reencontrei o Louveira e topei com o Prudência, o Lausanne. Ah, são tão belos os caminhos sinuosos que devaneiam fugindo entre arvores e pilotis encaminhando os indivíduos da rua a sua morada.

Louveira, arq. Vilanova Artigas.1946. Foto do autor.

Depois disso voltei pra casa, tranquilo.