sábado, 14 de janeiro de 2012

ho-ba-la-lá de Marc Fischer


Vinte e quatro horas desde que abri o livro. Talvez umas dez horas de leitura. Quanto anos Marc Fischer dedicou a João Gilberto para presentear alguns leitores com um sonho compartilhado? A história da bossa nova é mesmo triste na figura mais representativa do coração da beleza.

Uma história que tinha tudo pra ser uma obra detetivesca, inspirada em Sir Conan Doyle. Mais é uma história real, tão real quanto a esta própria declaração de amor a Bossa Nova, ao Brasil e, principalmente, a João.

Um ser único e, a meu ver, incompreendido. Por esse Brasil afora, quem realmente sabe quem é João? Da geração nascida nos anos oitenta até os dias de hoje são exceções aqueles que por ventura já ouviram “Ho-ba-la-lá”.

Um individuo sozinho em busca do sonho. Reconhecimento, popularidade, isso não importa, seu compromisso é com a música, com as suas próprias convicções. Tachar alguém de tantã é muito fácil, fazemos isso toda hora, tanto quanto queremos “matar alguém” sem nunca ter tido coragem de pisar em uma simples formiga. Nosso umbigo acaba sendo o centro do mundo. E a opinião comum diz o que é certo e errado neste mundo de dualidades abestalhadas.

João está certo. Não é doido, não é depressivo nem depravado. Pode ser sensível demais. Ele está certo, seu compromisso é consigo mesmo, com a música, com a beleza verdadeira. Um gênio. A Cultura brasileira deveria abraçar a causa, um patrimônio da humanidade reconhecido em cada rincão do planeta não pode ser deixado de lado assim, a mercê do tempo. Um músico que é aplaudido por vinte e cinco minutos ininterruptos lá no Japão e que pouco toca nos rádios brasileiras. Entretanto, doa-se milhões para se fazer um “blog”. Ainda fosse Elis Regina.

João não quer que se façam documentários sobre ele, a figura João não é o que importa, se ele pudesse, ensinaria todos a cerrarem os olhos quando se escuta “chega de saudade”.

Medo. É o que sinto quanto penso no momento em que ele se vá. Medo do que a mídia venha a fazer com sua figura enquanto ele, se pudesse, imploraria para que a música, que preenche seu apartamento no Leblon por quase doze horas diariamente, pudesse soar sem nenhuma interferência. Para o mundo todo poder ser tocado, preenchido, completo, satisfeito.

Mais tudo trata-se de um anseio. E anseio é coisa que ninguém pode apanhar. 


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