terça-feira, 2 de outubro de 2012

por uma questão de prioridade




A região central de São Paulo foi tema de uma breve apresentação na “TV Folha” na última segunda-feira.  Apontando uma suposta elitização do centro nos últimos anos, principalmente pelo aumento do grau de educação dos seus habitantes e também pela conscientização da população moradora quanto a zeladoria urbana e segurança.

Fato é que, ainda que incipiente, existe uma elitização da região central, ou uma expansão das áreas que nunca deixaram de ser nobres para aquelas áreas imediatas que tendem a ser requalificadas pouco a pouco. Logicamente, essa maior procura por habitação na região central, que vem avançando de forma centrípeta, se relaciona diretamente com uma valorização imobiliária que, por essência, causa segregação.

Neste avanço impiedoso das classes mais abastadas para o centro e região central intermediária, a população de mais baixa renda vem sendo obrigada a deixar o local, pelo menos aqueles que alugam um imóvel ou ainda se for de propriedade privada. Existem aqueles que não tem alternativa e permanecem, principalmente nas áreas menos valorizadas, como a região da Santa Ifigênia, Luz, etc. Isso porque a região conhecida pejorativamente de “cracolândia” aparece no cenário social como sem solução, legitimando, através do discurso perverso do Estado, uma atuação imediata de “limpeza” dos males dos quais padece o centro.

Os habitantes de baixa renda, os cortiços, os moradores em situação de rua, não são, e estão muito longe de ser a causa da chamada degradação da região central. Entretanto são apontados como agentes de desvalorização, que devem ser combatidos para que a região possa ser valorizada novamente. Isso tudo não faz o mínimo sentido.

Como também não faz sentido algum o debate sobre o futuro do Minhocão sem considerar a situação social da região. É injustificável a defesa de um parque sobre a via elevada quando a verdadeira carência da região extrapola a necessidade de áreas públicas e verdes.  A verdadeira deficiência da região central e da população que ali habita é habitação, principalmente habitação de interesse social, e mais, voltada para famílias com rendimento até três salários mínimos.

Acertadamente o fotógrafo Felipe Morozini coloca: “é utópico investir dinheiro em um “minhocão jardim” e em baixo continuar morando as mesmas famílias que eu vejo aqui há oito anos em baixo do minhocão”.

O que se faz necessário é uma questão de prioridades, de colocar as boas ideias (que não são poucas) em prática. Articular as atividades para o bem da cidade e dos seus cidadãos. Garantir que a população menos favorecida possa permanecer e mais, repovoar a região central. Habitação Social com prioridade absoluta em relação à habitação para a classe média. Deve-se desenvolver e aplicar uma política habitacional para o centro da cidade urgentemente, de maneira democrática e solidária. E mesmo que seja necessário o debate sobre a demolição do minhocão, como defende Guilherme Wisnik no texto “Sob o signo da demolição”, de nada adianta transformar o gigante de concreto se a população que se abriga sobre seus mais de três quilômetros não tem a mínima possibilidade de acesso à habitação digna na região central.

“Portanto, demolir ou não o minhocão não é uma questão. O que devíamos discutir é a viabilidade de fazê-lo agora ou no futuro” (Guilherme Wisnik).