A região central de São Paulo foi tema de uma breve
apresentação na “TV Folha” na última segunda-feira. Apontando uma suposta elitização do centro nos
últimos anos, principalmente pelo aumento do grau de educação dos seus habitantes
e também pela conscientização da população moradora quanto a zeladoria urbana e
segurança.
Fato é que, ainda que incipiente, existe uma elitização da
região central, ou uma expansão das áreas que nunca deixaram de ser nobres para
aquelas áreas imediatas que tendem a ser requalificadas pouco a pouco.
Logicamente, essa maior procura por habitação na região central, que vem
avançando de forma centrípeta, se relaciona diretamente com uma valorização
imobiliária que, por essência, causa segregação.
Neste avanço impiedoso das classes mais abastadas para o
centro e região central intermediária, a população de mais baixa renda vem sendo
obrigada a deixar o local, pelo menos aqueles que alugam um imóvel ou ainda se
for de propriedade privada. Existem aqueles que não tem alternativa e permanecem,
principalmente nas áreas menos valorizadas, como a região da Santa Ifigênia,
Luz, etc. Isso porque a região conhecida pejorativamente de “cracolândia”
aparece no cenário social como sem solução, legitimando, através do discurso
perverso do Estado, uma atuação imediata de “limpeza” dos males dos quais
padece o centro.
Os habitantes de baixa renda, os cortiços, os moradores em
situação de rua, não são, e estão muito longe de ser a causa da chamada
degradação da região central. Entretanto são apontados como agentes de
desvalorização, que devem ser combatidos para que a região possa ser valorizada
novamente. Isso tudo não faz o mínimo sentido.
Como também não faz sentido algum o debate sobre o futuro do
Minhocão sem considerar a situação social da região. É injustificável a defesa
de um parque sobre a via elevada quando a verdadeira carência da região
extrapola a necessidade de áreas públicas e verdes. A verdadeira deficiência da região central e
da população que ali habita é habitação, principalmente habitação de interesse social,
e mais, voltada para famílias com rendimento até três salários mínimos.
Acertadamente o fotógrafo Felipe Morozini coloca: “é utópico
investir dinheiro em um “minhocão jardim” e em baixo continuar morando as
mesmas famílias que eu vejo aqui há oito anos em baixo do minhocão”.
O que se faz necessário é uma questão de prioridades, de
colocar as boas ideias (que não são poucas) em prática. Articular as atividades
para o bem da cidade e dos seus cidadãos. Garantir que a população menos
favorecida possa permanecer e mais, repovoar a região central. Habitação Social
com prioridade absoluta em relação à habitação para a classe média. Deve-se
desenvolver e aplicar uma política habitacional para o centro da cidade
urgentemente, de maneira democrática e solidária. E mesmo que seja necessário o
debate sobre a demolição do minhocão, como defende Guilherme Wisnik no texto “Sob
o signo da demolição”, de nada adianta transformar o gigante de concreto se a
população que se abriga sobre seus mais de três quilômetros não tem a mínima
possibilidade de acesso à habitação digna na região central.
“Portanto, demolir ou não o minhocão não é uma questão. O
que devíamos discutir é a viabilidade de fazê-lo agora ou no futuro” (Guilherme
Wisnik).
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