terça-feira, 4 de outubro de 2011

O (des)controle do tempo


Por Vinicius Libardoni
E eu sigo ouvindo as pessoas exclamarem com veemência que o tempo passa rápido demais. Um dia desses, quando minha colega de trabalho disse: “Caramba, já nos aproximamos do final do ano!”, me permiti construir um pensamento que descrevo mais ou menos desta maneira:

Seria o sentimento de descontrole, do decurso do tempo, certa ausência de memórias significativas?  Acredito que essa foi a minha grande conclusão aquele dia. Tentarei explicar, algo que, na verdade, pelo menos pra mim, não tem explicação alguma.

Em curto prazo, o tempo sempre parece passar apressadamente, principalmente para aqueles que têm o tempo bastante ocupado, ou, na verdade, ocupam razoavelmente o seu tempo com afazeres variados. A repetição de tais afazeres é o que poderíamos chamar de “rotina”. Normalmente a rotina é tida como algo desinteressante e desanimador. A verdade é que a rotina pode não ser chata, desde que, ela possa ser incrementada por novas atividades cotidianamente, como ler um romance, ver um bom filme, conhecer outro lugar, fazer uma nova amizade, pelo menos, semanalmente.

Isto porque, a meu ver, em longo prazo, são as memórias que determinam a duração e a consistência do tempo passado. A rotina é certo tipo de “contra-memória” enquanto os novos conhecimentos são algo como “favor-memória”.

Quando, em curto prazo, se vive na rotina, pode-se, mesmo que lhe custe trabalho, lembrar vagamente dos acontecimentos da semana passada. Mais é quase impossível depois de um mês, denunciar os fatos verídicos referentes a cada semana. Mais difícil ainda é localizar, ao final de um ano, os acontecimentos referentes a cada mês. Ou você não foi surpreendido com o anúncio de que já faz um ano daquele fato surpreendente?

Ninguém pode deter a passagem do tempo. Entretanto, pode-se produzir memória através do transcurso do tempo. Devemos deixar de reclamar de não ter tempo pra nada, que queremos mais horas diárias ou dias incrementando os finais de semana. É preciso habituar-se a construir memórias, e com isso, dar consistência ao tempo que se vive e não deixa-lo passar inconsistentemente.

Por que uma viagem de um mês a outro país são lembranças que equivalem a um ano inteiro da sua vida rotineira? Porque estão cheias de memórias construídas, de relações, de conhecimento, de imagens mentais. Não se precisam viajar milhares de quilômetros para construir memória. É preciso iniciativa e força de vontade.

Reclamar não vai mudar as coisas, e se continuares a fazer as mesmas coisas esperando resultados diferentes, isso é, no mínimo, burrice. Lamentavelmente, a banalidade das informações que recebemos diariamente, não passam de memórias de hiper-curto prazo e precisam ser alimentadas mais e mais frequentemente. Depois de um ano gasto se atualizando no que as pessoas curtiram ou deixaram de curtir na rede, nada fica, não há minimamente, memória construída.

A questão então me parece, menos em relação ao decurso do tempo (o que não te concerne), e mais a o que estas a fazer com o seu tempo (o que deveria te concernir). 

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