quarta-feira, 7 de março de 2012

The Blues Brothers, um verdadeiro musical


Por David João Maia e Samuel R. Rocha

No dia cinco de março de mil novecentos e oitenta e dois, John Adam Belushi, como se diz por ai, “foi dessa para uma melhor”. Então com trinta e três anos, assim como jesus cristo, o célebre comediante do Saturday Night Live (John e não Jesus) meteu-se uma speedball na veia. O barbudo ali também sofreu com objetos pontiagudos, os remotos pregos e coroas de espinhos da modernidade são a cocaína e heroína misturadas no tal da “bola veloz”.

Belushi deixou este mundo, e o quarto do Chateau que alugava em Los Angeles, depois de injetar aquela bomba. Posteriormente, descobriu-se que a dose cavalar não tinha sido “acidentalmente” administrada. Cathy Smith, uma groupie safada (perdoem-me o pleonasmo, mais cabe aqui para intensificar o adjetivo), foi condenada pelas “bolas velozes” que arrebentaram nosso fantástico Jake Blues.

A “doidona”, mais tarde acabou declarando: “I killed John Belushi. I didn’t mean to, but I am responsible”. Conheceu John através dos Stones, acostumada a tratar com gente grande, Ron Wood e Keith Richards, Belushi, que não era um viciado em heroína, droga a qual, pouco usava antes do terrível acidente, se tornou uma espécie de Mia Wallace (Pulp Fiction) nas mãos da viciada salafrária. Entretanto, o “bunda mole” (Robin Willians) que estavam na cena do crime, não dispunha de uma bela injeção de adrenalina para cravar-lhe no meio do peito e o caráter da própria Cathy Smith pouco se assemelha ao admirável Vincent Vega, interpretado por outro John, o Travolta.

Dizem que até Robert de Niro havia comparecido no apê de Belushi naquela noite, estaria ele procurando por um Chateau? (I’m looking for a Chateau, 21 rooms but one will do). Uma coincidência plausível, como a de jesus cristo, além de que de Niro e Belushi tivessem se encontrado naquele maldito Chateau naquela noite, algo na carreira dos dois é que me emociona.

No fatídico ano de mil novecentos e oitenta, enquanto Robert rodava cenas de “Raging Bull” de Martin Scorsese, John gravava o musical “The Blues Brothers”. Tal comentário se deve ao fato de que, estes dois filmes são uns de meus favoritos, cada um no seu estilo. Robert de Niro se saiu melhor no Touro Enraivecido ganhando o seu único Oscar como melhor ator e também se saiu melhor naquela noite, saiu vivinho da silva daquela porcaria de Chateau amaldiçoado.

The Blues Brothers apareceram por primeira vez no dia 22 de abril de 1978 como convidadosl no programa Saturday Night Live. Tudo deveria parar por ai, porém, quanto mais as músicas tocavam na rádio, mais crescia a vontade de ir adiante e de gravar um álbum da banda. Briefcase Full of Blues foi lançado no mesmo ano de mil novecentos e setenta e oito. Um sucesso total nas paradas, chegou ao número um no Bilboard 200 e não se ouvia nada mais que “Rubber Biscuit” (Charles Johnson e Adam R. Levy) e “Soul Man” (Isaac Hayes e David Porter).

O filme “The Blues Brothers” feio para coroar o feito de Jake e Elwood Blues (John Belushi e Dan Aykroyd). Dirigido por John Landis, que também foi o roteirista em conjunto com Dan, The Blues Brothers é um dos melhores musicais jamais produzidos de R&B. Além dos Blues Brothers o filme trás uma série de grandes músicos, verdadeiras lendas do jazz, funk, blues e rock n’roll. Uma comédia permeada por verdadeiros números musicais a la Chicago.

James Brown, o rei do funk, faz uma participação pra lá de cômica e empolgante como “Reverendo Cleophus” na igreja “triple rock” repleta de negros pra lá de animados.

John Lee Hoocker aparece interpretando a si mesmo, cantando uma de suas melhores composições (boom boom), no mesmo ano que foi induzido ao “Blues Hall of Fame”(1980), então com 63 anos. Com seu blues leve e penetrante aparece em meio à multidão, em um subúrbio de Chicago que mais se parece com a vinte e cinco de março de São Paulo.

Aretha Franklin comparece em uma das cenas mais cômicas do filme, quando no seu estabelecimento com o sugestivo nome de “soul food café”, Jake e Elwood fazem seus respectivos pedidos de Blues Brothers: “Some toasted white bread, dry” (para Elwood) e “Four fried chickens and a coke” (para Jake). Aretha interpreta estupidamente bem e canta melhor ainda a musica “Think” (You better think (think)).

Ray Charles é sem dúvida o ponto alto dentro do The Blues Brothes, exatamente no meio do filme, é o cume do próprio musical. Divertido e transpirando musica, Ray trabalha em uma loja de equipamentos musicais usados, onde os Blues Brothers pretendem adquirir seus badulaques. Uma verdadeira performance musical, Ray Charles compartilha com os Blues Brothers o verdadeiro estopim do hit “Shake a Tail Feather” já tocada antes pelo grupo “The Five Du-Tones” e também por “James e Bobby Purify” quando chegou ao número 25 das paradas. A essência da musica dos Dancing Days, na versão de Ray com os Blues Brothers são incluídas as danças: the twist, the monkey, the frug e the mashed potato performance emblemática de Jake e Elwood e também do grupo Crew tomando toda a rua em uma cena que ficou gravada na memória de todos que assistiram ao musical.

Posteriormente um bando de jovens loiros, os Hansons, gravaram um verdadeiro pastiche do hit Shake a Tail Feather” com a sua Thinking ‘bout Somethin’, com o mesmo cenário o antigo Ray’s Music Exchange (agora Tay’s Music Exchange). Todo e qualquer sucesso de tal performance, se deve a toda originalidade presente no filme The Blues Brothers, ainda assim, me parece uma homenagem de relativo apreço por parte dos branquelos.

Cab Calloway faz uma de suas melhores performances já filmadas no show que deveria ser a abertura ao grande show do Blues Brothers no filme. Tornou-se um musical cheio de vigor e de um swing jazzístico fora de serie. Iniciando com a sua Minnie the Moocher, primeiramente gravada quase cinquenta anos antes, em 1931 por ele mesmo e sua orquestra, configurando um dos grandes sucessos do Jazz americano e vendendo mais de um milhão de cópias. Parece que não havia se passado nem um minuto desde seu sucesso prematuro, quando o auditório inteiro canta em coro junto com Cab Calloway e aplaude de pé, mais do que uma cena de um filme musical, foi, a meu ver, uma verdadeira emoção que a plateia vivenciou naquele dia. Seria normal que depois de um verdadeiro show a plateia não tivesse qualquer reação perante os Blues Brothers.

Entretanto, cantando “Everybody needs somebody to love” (I need you, you, you…) o auditório se levanta. Um hit impossível, de carregado qualquer um (everybody) com a música. The Blues Brothers são comédia, emotividade, empolgação, ritmo e pulso, enfim, são “blues brothers”. Como é a segunda música do show “Sweet home Chicago” composta pela lenda “Robert Johnson”. A essência do blues naquele filme: simplicidade, a lenda: Robert Johnson, a cidade: Chicago e The Blues Brothers.

Finalmente, para encerrar o grande musical não poderia faltar o rei do rock. Jailhouse Rock, música e filme de Elvis Presley de 1957. Encenada no estilo Johnny Cash, a galera do xilindró faz uma verdadeira festa como no Carandiru de Rita Cadilac. The Blues Brothers é, sem dúvida, um dos melhores musicais já produzidos pela grande tela. Merece e vale a pena ser visto e revisto.

É de uma dupla personalidade, como o show de Cab Calloway, onde o figurino é somente imaginação ou toda aquela interpretação de Curtis é fruto da ficção do cinema? Os interpretes, vivenciando verdadeiras lendas da música americana do século XX e pessoas normais paralelamente, transformam as cenas em uma espécie de miragem musical, uma linha tênue separa o sonho da realidade, talvez isso é o que transfere a película tanta emotividade e pulsação.

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