segunda-feira, 19 de setembro de 2011

a tentativa de construir uma discussão

Por Vinicius Libardoni

Mais do que textos dispersos, devaneios sobre qualquer coisa, isto representa uma tentativa de construir uma discussão. Ainda que sutilmente localizada sobre o âmbito da disciplina da arquitetura, há um intento claro de atravessamentos a partir de outras disciplinas de maneira a contribuir com a diversificação do debate.
Gregorio Marañón, médico endocrinologista, cientista, historiador, escritor e pensador espanhol, disse: “Aquele que somente se interessa por sua especialidade, nem ela mesma lhe interessa”. Ou seja, segundo este madrileño nascido em 19 de maio de 1887, devemos buscar conhecer um pouco de todas as áreas, pois, conforme diria o pessimista, não nos tornaremos sábios em quase nada e sim, ignorantes em quase tudo.
Concordo plenamente com Tschumi quando discorre em notas para uma teoria da disjunção arquitetônica[1], a respeito das estratégias de disjunção. O autor nos revela que tal estratégia não deve ser considerada um conceito arquitetônico, mais uma maneira através da qual, é possível entender a própria atividade de produção de conhecimento em arquitetura. Não se trata de ideias abstratas acerca de teorias sem pé nem cabeça ou, projetos sem começo nem fim. Incorporar outras disciplinas e atividades em nosso processo projetual não é, de modo algum, uma justificativa ou uma fuga da arquitetura mesma. Deve ser encarada como uma procura por uma arquitetura outra, que incorpore toda a complexidade do fenômeno arquitetônico e suas pluralidades. Parafraseando Tschumi “...o progresso da notação arquitetônica está ligado a uma renovação da arquitetura e dos conceitos de cultura que a acompanham”.

A busca por incorporar outros profissionais, que não aqueles tradicionais, atividades, olhares, pensamentos, teorias, exigências, usuários, na atividade de projeto de arquitetura, não devem ser conduzidos abstratamente pois, é um trabalho que se desenvolve no âmbito da disciplina da arquitetura, ainda que consciente de outros campos. É quase que um deslocamento, uma permeabilidade através de outras variáveis consideradas sobre a produção da arquitetura. Somente através de um posicionamento como tal, poderemos compreender a arquitetura como uma atividade humana altamente complexa como ela realmente deve ser compreendida.
Volto a afirmar na importância de diversificar a procura por conhecimento no momento que, quanto mais respiro tão apaixonante ofício, mais sinto a necessidade de estudar outras coisas, independentes da arquitetura. Independentes até certo ponto, pois, aquele que realmente está preocupado em construir e produzir conhecimento através do ofício conseguirá enxergar arquitetura em tudo o que observa.
Percebo também que, o aprendizado nunca é imediato. Nesta procura por entender o mundo e as coisas que com ele se relacionam, vivo uma busca incessante por conhecimento e aprendizado. Ontem era ainda uma pequena criança inapta para absorver temas de maior complexidade. Acho que, devemos viver com esta doce ilusão permanentemente, que ontem erámos incapazes de compreender certas coisas, hoje se é dedicados o suficiente para tentar absorver os temas que não entendíamos ontem e, finalmente, desejo, amanhã, ser sábio a respeito de tudo que um dia discutíamos.  


[1] Introdução: notas para uma teoría da disjunção arquitetônica. TSCHUMI, Bernard. Do livro, Uma nova agenda para  arquitetura, NESBITT, Kate. São Paulo, Cosac Naify, 2006.

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