quinta-feira, 17 de maio de 2012

Cidade, reflexo de seus habitantes


Este pequeno ensaio publicado no "Diário do Sudoeste", jornal da cidade de Pato Branco, foi construído sobre um outro ensaio, anteriormente publicado neste blog, sob o irônico título de "Beltão tem mais livrarias que Pato Branco!". A intenção deste ensaio, publicado no jornal, é a de gerar uma repercussão, mesmo que pequena, sobre a realidade da cidade, uma reflexão individual sobre nossa postura como coletividade na produção do espaço urbano e de suas atividades. Felizmente parece que a recepção foi interessante, recebi um comentário do pessoal da rádio "Elite FM" (em nome de Laudi Vedana), que multiplicou através deste meio, a mensagem deste ensaio, multiplicando a abrangência e ocasionando uma enorme alegria e este humilde autor. 
Grato a redação do Diário do Sudoeste e ao pessoal da Elite FM.


Na íntegra ...

Recentemente, em uma de minhas últimas visitas a Pato Branco, daquelas que nunca quero que chegue e depois, desejo que nunca termine, estive a refletir sobre algo interessante que acredito valer a pena compartilhar.
Caminhando por estas ruas deparei-me com uma quantidade enorme de algumas atividades, enquanto outras pareciam não existir. Poderia enumerar uma quantidade inacreditável de farmácias, lojas, salões de beleza, açougues, garagens, enfim, uma infinidade de coisas que permeiam o centro da cidade. Embora tudo isso pareça normal, acredito que os usos enraizados na cidade refletem diretamente a cultura de sua gente. E o que mais me intriga, é que não existe sequer uma livraria.
Está bem, podemos dizer que há lugares onde se vende meia dúzia de best-sellers, mais nada que se pareça com uma livraria, aquele espaço onde podemos deambular em busca de algo ou esperando que este algo nos encontre. Logicamente não existiria na Avenida Tupi algo como El Ateneo de Buenos Aires, ainda assim, sinto que a ausência de espaços como este, tenha grande impacto na vida de nossos habitantes. Alguém poderia nos dizer que hoje em dia não se compram mais livros como antigamente, que a tecnologia nos aproxima da cultura e que a internet pode fornecer todo o tipo de informação instantaneamente. Há ainda, aqueles que afirmam que a criação do e-book acabará, pouco a pouco, com a cultura ultrapassada de comprar livros e acumular papéis.
Pessoalmente, acredito que a internet tem se mostrado uma grande aliada à superficialidade do ser humano. Embora exista uma disponibilidade enorme de informação ao alcance de todos, há uma incrível preferência por futilidade em relação à utilidade.
Se no passado existiam cinemas e livrarias nas ruas desta cidade, me pergunto porque estas atividades caíram em desuso? Seria a tecnologia e o excesso de informação a causa da morte prematura das atividades de formação cultural nas pequenas cidades? O que poderíamos fazer para reverter esta situação? 
Muitas das nossas perguntas sempre permanecerão sem respostas, porém, são estas que nos levam adiante, são as indagações que nos induzem a crescer pessoalmente.
Desta maneira coloco a seguinte questão: será o ambiente empobrecido que conforma seus habitantes, ou será a superficialidade dos indivíduos que produz um ambiente tão pobre? Deixemos de ser alienados. Foram os indivíduos que criaram esta realidade, que moldaram o espaço, que desenvolveram e se utilizaram de suas atividades. Entretanto, também fomos nós, não individualmente e sim como coletividade, que desenvolvemos esta cultura da superficialidade, banalidade e futilidade. Estas características (intrínsecas à nossa sociedade hoje) se enraizaram no espaço urbano e são fruto direto das atividades, individuais e coletivas, que foram moldando as relações sociais e, indiretamente, os usos e as atividades que compõe o espaço da cidade.
Evidentemente somos todos responsáveis pela cidade que criamos e recriamos diariamente. Estamos conseguindo desenvolver um ambiente empobrecido, frequentando sempre os mesmos lugares, encontrando sempre as mesmas pessoas com as mesmas ideias baratas e desta maneira, moldando um espaço tão pouco atraente quanto as nossas próprias convicções. Apesar de tudo, somos nós que devemos buscar uma mudança de comportamento e consequentemente em construir uma cidade mais rica social e culturalmente. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário