domingo, 6 de maio de 2012

Da infinita atividade de tentar ser arquiteto



Alguns dias ficamos um bom tempo observando o papel em branco sem saber o que escrever, hoje é um dia destes. Como se não tivéramos nenhum pensamento que vale a pena ser descrito, embora essa suposição seja completamente desmedida. Certamente o que faço aqui é descrever algo que passa ligeiramente pelo campo das ideias sem mesmo ter tido tempo de tornar-se um pensamento sólido, seja o que for. Muitas vezes não se tem nada a dizer, somente preencher aquela folha em branco que quanto mais branca, mais pesada se comporta sobre a mesa e mais pesadamente atinge minha alma. Preenchê-la é esvaziar-me. Como se cada palavra tivera um peso e ao fim sente-se mais leve, e por mais inútil que isso possa parecer, causa um terrível bem estar e permite um descanso merecido. 

É nessa batalha de preencher e esvaziar sem vontade de conceber algo coerente que muitas vezes paro para refletir. Assim lembro-me de vezes em que se tem tanto para fazer mais não se tem vontade de fazer absolutamente nada. Por mais semelhante que possa parecer, não tem nada a ver com preguiça. É de certa forma complexa. Por mais que queiras fazê-lo, é difícil iniciar, pois pensas em tudo e não podes concentrar-se em absolutamente nada e ao cabo esperas por decidir-se em que coisa fazer. A única solução torna-se a espera do momento último, da tensão entre prazo e realização da tal atividade.

Acredito que esta é a vida de um estudante de arquitetura, ao menos aqueles que ainda mantem vivo algum tipo de reflexão crítica em relação a seu percurso dentro do curso de graduação. É um tal de desejar tudo e não fazer nada. Deve-se tentar fazer uma coisa de cada vez ou seria melhor fazer tudo ao mesmo tempo, depende de cada indivíduo e de cada situação. É que em nossa prática acadêmica e quiçá profissional, algo só chega ao final quando justamente se esgota o tempo para este, ou seja, não se conclui algo sem que ainda exista tempo hábil para seguir seu desenvolvimento.

Acredito que existe a necessidade de enganar-se a si mesmo para obter os melhores resultados. As coisas estão sempre em processo, pois o processo é justamente o ponto mais importante do objeto, pois, reflete em como as coisas estão feitas em sua própria materialidade, temporalidade, espacialidade, complexidade e todas estas coisas. Tudo sempre evolui, se transforma, se aprimora. Entretanto se deve saber a hora de encerrar, de concluir algo ou de finalizar a si próprio quando já não possas mais acompanhar o ritmo frenético da contemporaneidade. E ainda me aflige o acercar-se a mim deste dia.



Vinicius Libardoni

Nenhum comentário:

Postar um comentário